Estudo científico reúne evidências sobre os efeitos do NAC na resiliência das plantas e no fortalecimento da citricultura frente aos desafios climáticos.
Um artigo recém-publicado por pesquisadores brasileiros do projeto CCD-CROP-IAC apresenta um panorama abrangente sobre os efeitos do N-acetilcisteína (NAC) na agricultura. A publicação, divulgada na revista científica PhytoFrontiers em 2025, compila dados de diversos estudos realizados nas últimas décadas, reunindo evidências robustas sobre o papel do NAC no fortalecimento das plantas frente a diferentes tipos de estresse.
A publicação chega em um momento estratégico. A agricultura, em todo o mundo, enfrenta desafios crescentes causados pelas mudanças climáticas e pelo aumento da pressão de doenças e pragas sobre as lavouras. Tornar os sistemas produtivos mais resilientes e sustentáveis exige pesquisas e tecnologias que ajudem a reduzir perdas no campo e a conservar os recursos naturais — e é nesse cenário que o NAC tem se destacado.
De acordo com o artigo, o NAC apresenta múltiplos benefícios agronômicos: desde a redução do estresse oxidativo e a melhoria da resposta fisiológica das plantas, até efeitos positivos sobre o solo e a microbiota associada às raízes. Embora não atue diretamente sobre patógenos, o NAC contribui para manter as plantas em melhores condições para enfrentar situações adversas, o que pode refletir em aumento de produtividade e maior longevidade das culturas.
Entre os destaques da revisão científica está a aplicação do NAC no manejo de culturas tropicais perenes, como os citros. O uso da molécula tem sido estudado como parte de estratégias para aumentar a tolerância das plantas ao estresse hídrico, às temperaturas elevadas e ao ataque de patógenos — fatores agravados pelas mudanças climáticas.
No contexto do CCD-CROP-IAC um projeto que adota um modelo triple hélice de inovação, reunindo centros de pesquisa, instituições públicas e empresas privadas para desenvolver soluções tecnológicas para culturas como laranja, cana-de-açúcar e café, o NAC tem sido avaliado como uma estratégia promissora para a resiliência da citricultura.
Os estudos conduzidos por pesquisadores vinculados ao projeto buscam mostrar o potencial da tecnologia-NAC como um suplemento fisiológico em diferentes variedades de citros, ajudando a manter a saúde das folhas, reduzindo a queda de frutos e melhorando a produtividade de plantas doentes – especialmente aquelas com greening (huanglongbing – HLB).
Embora o NAC não atue diretamente sobre o patógeno causador do greening, ele tem se mostrado uma ferramenta útil na manutenção da vitalidade das plantas infectadas, ajudando a mitigar os efeitos secundários do estresse causado pela doença.
A pesquisa realizada com a tecnologia NAC por pesquisadores de instituições públicas são exemplos claros do que o modelo da tríplice hélice de inovação tecnológica pode oferecer à agricultura brasileira.
No caso do CCD-CROP-IAC, esse modelo se concretiza com a participação ativa de empresas desenvolvedoras de tecnologias agrícolas, indústria de alimentos, fazendas e viveiristas. Essa rede colaborativa amplia significativamente o alcance e a efetividade das pesquisas.
Na área da citricultura, por exemplo, essa estrutura permite que os pesquisadores do Centro de Citricultura Sylvio Moreira e Instituto Agronômico (IAC) avaliem os resultados do melhoramento genético e das combinações de porta-enxertos em diferentes ambientes produtivos do estado de São Paulo, considerando não apenas fatores climáticos e edafológicos, mas também o uso de insumos tecnológicos — como o NAC — fornecidos pelas empresas parceiras.
Esse tipo de estudo integrado permite propor, com base no método científico, um pacote tecnológico completo para o produtor de citros: combinando variedades mais adaptadas, manejo nutricional, tecnologias de suporte fisiológico e práticas sustentáveis. Assim, a ciência brasileira entrega ao setor produtivo soluções personalizadas para diferentes regiões, fortalecendo a competitividade e a sustentabilidade da citricultura nacional.
"Quando trabalhamos no modelo da tríplice hélice, conseguimos unir o que há de melhor na pesquisa científica com a realidade do campo e a capacidade de escala das empresas. Isso nos permite validar tecnologias em diferentes condições produtivas."
Os pontos destacados no artigo científico, reforçam o que temos falado sobre a segurança e sustentabilidade da molécula de N-acetilcisteína (NAC) para uso na agricultura. Por ser um composto já amplamente estudado em aplicações médicas e ambientais, o NAC possui um perfil altamente seguro para plantas, animais, seres humanos e para o meio ambiente.
Além disso, diferente de defensivos químicos convencionais e outros compostos como o cobre, muito utilizado na citricultura, o NAC não tem ação direta sobre patógenos ou vetores de doenças, como fungos, bactérias ou insetos. Seu papel é fortalecer os mecanismos naturais das plantas, promovendo maior equilíbrio fisiológico e capacidade de resposta frente ao estresse ambiental — como seca, excesso de calor, deficiência nutricional e pressão de doenças.
O uso do NAC na agricultura não deixa resíduos no solo ou nas plantas e pode ser facilmente integrado a sistemas de produção sustentáveis, como o manejo regenerativo, o uso racional de insumos e o manejo integrado de pragas (MIP).
Essa combinação de eficiência agronômica e responsabilidade ambiental é um dos fatores que fazem da tecnologia NAC um grande potencial para os próximos anos, especialmente diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas e exigências crescentes do mercado por práticas agrícolas mais seguras e sustentáveis.
Dos Santos, L. N., et al,. N-Acetylcysteine in Agriculture: New Insights into Its Effects for Sustainable Crop Management. PhytoFrontiers, 2025.
Etzkowitz, E. e Zhou, C. Hélice Tríplice: inovação e empreendedorismo universidade-indústria-governo. Estudos avançados, 2017.
Texto desenvolvido por
Dra. Simone Picchi: é CEO da CiaCamp, bióloga com Mestrado e Doutorado em Agronomia. Atuou em pesquisas no Brasil, França e EUA. No pós-doutorado, estudou o potencial antioxidante do NAC em plantas. Hoje, lidera a CiaCamp unindo ciência e inovação no campo.
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